Foto de autor desconhecido
Fim de tarde de Março, fim de tarde de uma Primavera, que parece não querer chegar. Está vento, muito vento... olho pela janela da cozinha e vejo o campo, as árvores de fruto, as flores... E pergunto-me, o que verei eu, em breve, da janela dessa casa, onde vou morar ? Tão longe daqui... tão longe da minha verdadeira casa...
Falta um mês para eu partir... sinto-me dividida. Por um lado ansiosa; porque vens cá a Portugal, vens passar uma semana comigo e parece que nunca mais chegas. Por outro lado, não quero que o tempo passe, porque sei que partiremos os dois para um país que não é o nosso, para uma casa que não a sinto como nossa. Podem dizer, mas é só uma casa... Mas o nosso lar, nunca é só uma casa, está carregado de memórias... memórias vividas que a tornam única...
o chão, onde namorámos, quando ainda estava vazia; a varanda, onde tantas noites, bebemos um café, a olhar a lua, a ouvir os sons da noite, onde conversámos e rimos, de conversas tontas, nossas... o quarto, onde dancei contigo, onde te abracei forte... esse refúgio, onde tantas vezes me senti protegida nos teus braços...
Dou por mim, por vezes, a querer levar tudo connosco... como se isso fosse possível... E ao mesmo tempo, a querer deixar tudo como está, deixá-la intacta, para sempre que voltar a ela, a sentir como nossa...
Sinto, que me estou a despedir de tudo e custa-me tanto... O deixar não só a casa, mas o nosso país.... as nossas pessoas, família. Tudo o que conhecemos...
Contei-te, que uma destas noites, não conseguia adormecer. Nunca mais dormi bem, desde que partiste. E na tentativa de adormecer, de serenar a mente de todos estes pensamentos... tentei pensar em algo que me acalmasse, o campo... o mar e os seus sons; das gaivotas... do bater das ondas... Mas nada disso me acalmou... e o que me veio à mente, foi, o deitar a cabeça no teu peito... onde tantas vezes adormeci e onde me sinto segura...
Por isso amor, sei que quando aí estiver e sentir saudades de casa (e de casa, refiro-me a muito mais, do que a habitação, refiro-me a Portugal), terei sempre o teu peito, onde a minha cabeça repousa, onde oiço o teu coração, o teu respirar... ou quando me apertas no teu abraço... me confortas e nesses abraços, esqueço tudo... esqueço o mundo... Sim, aí amor... também me sinto em casa. ⦁
Deixo-vos esta música, tão bonita - The Cinematic Orchestra - To Build a Home
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