15 de janeiro de 2016

As pessoas. as que nos tocam...

Enquanto me aninho no sofá, ao final do dia, olho para a rua. Finalmente, a neve está de volta... Desde Novembro que não nevava por aqui. O meu olhar prende-se nos flocos que caem, quase como um fogo de artifício da natureza, tão branco, tão belo! Oiço a rádio ao fundo, e pelo telemóvel, visito lugares bonitos… os blogues que me estão no coração. Penso nas pessoas. Nas suas histórias e na forma que nos tocam. E é de pessoas que me tocaram de alguma forma, que hoje vos vou falar.

Ao chegar à Suíça, ao vir ter com o meu marido. Vim de Portugal, numa situação que nunca tinha estado anteriormente, desempregada e a receber o subsídio de desemprego. E nesta condição, existe a possibilidade de durante seis meses, procurar trabalho num país europeu e continuar a receber o subsídio, desde que se faça prova dessa procura activa de trabalho. Se em Portugal, não é fácil a procura e a solicitação de comprovativos, mesmo a quem não tem um emprego para nos oferecer, fora do país, torna-se ainda mais complicado e difícil. Apesar de neste momento, os seis meses já terem passado e de já não solicitar estes comprovativos. O foco principal é aprender a língua, sem se falar a língua nativa, dificilmente alguém nos empregará. Foi durante esta procura que conheci pessoas muito interessantes e que me tocaram de uma forma muito especial.

Como podem calcular, não foi fácil. Procurar trabalho no que existe aqui, no comércio. Sem falar o alemão, foi uma batalha dura. Encontrei pessoas que me olharam de lado, não vos vou dizer que não. Encontrei pessoas, em que notamos no olhar, nos jeitos, um "lá vêm estes estrangeiros chatear". Mas também encontrei pessoas que me devolveram o sorriso. O sorriso que alguém me tinha tirado. 

Como o senhor da loja de fotografia... Entrei na loja e ouvi ao fundo, um senhor já com alguma idade, a falar em inglês, ao telefone. Pensei que estava com sorte, porque esta minha procura era feita nesta língua. Vem ter comigo, cumprimenta-me em alemão, Gratzie, diz-me ele, retribuo. È um cumprimento informal, quase um Olá. E eu pergunto-lhe em inglês, meio sem jeito, se ele precisa de empregada. Olha-me com os seus olhos de um azul profundo, com o cabelo todo branco, sorri e diz-me que não. Que vai fechar a loja, que se vai reformar. Não há qualquer tristeza nele, pelo contrario, noto-lhe uma vivacidade imensa, muita vontade de viver. Diz-me num inglês perfeito, muito raro por aqui, que já tem a loja há quarenta e cinco anos. Que agora é tempo de se reformar e de viajar. Sorrio para ele e digo-lhe que sou portuguesa e pergunto-lhe se conhece Portugal, se já visitou o nosso país. Diz-me que não, que visitou apenas Espanha. Digo-lhe com alguma timidez, sempre em inglês, que é um país muito bonito, brinco um pouco com ele e digo, Good food, Good wine. E ele sorri. Diz-me que viaja mais para a Ásia, que tem um irmão na Tailândia, e que é um país muito belo. A minha paixão pela fotografia leva-me a perguntar, Muito bonito para fotografar, não ? E ele diz-me que sim, que é maravilhoso. Olho para a loja, vejo várias câmaras digitais, mas muitas analógicas. Canons, Nikons e até Leicas. Sobre esta última, diz que é muito boa e a sorrir, pergunta-me se sabia que as objectivas desta câmara são feitas no Porto, em Portugal. Sorrio para ele, e digo que não, desconhecia totalmente… A conversa flui e a sorrir, voltamos ao motivo porque eu estava ali. E ele diz-me, o que eu já sabia, que é essencial aprender o alemão, para conseguir trabalho aqui. "Ou então (brinca ele comigo), a falar português, só se for para o Brasil", e sorri novamente, eu retribuo o sorriso e digo-lhe que tem razão. Na altura, não me consegui recordar de como se dizia sotaque, em inglês, Accent, e sai-me um, Yes, it's portuguese with a twist, e ele sorri e diz-me que sim. Digo-lhe ainda, que estou a aprender a língua, mas que não é um idioma fácil. Olha-me, não esqueço aquele olhar azul, e diz-me que vou conseguir arranjar trabalho, deseja-me boa sorte. Agradeço e já nem me recordava dos carimbos, dos comprovativos, inicialmente pensei que como iria fechar a loja, que eventualmente, não poderia assinar. Mas ele ao ver a minha capa com a folha do centro de emprego, oferece-se para o fazer. Não esperava o gesto… sorri novamente, agradeci-lhe e saí da loja com um sorriso no rosto e também no coração. 

Recordo-me ainda da senhora do celeiro… Perto, desta nossa casa, existe um edifício grande de madeira. Por fora parece um celeiro, por dentro é uma livraria grande, acolhedora e com um recanto, que é também um café. A dona tem um cabelo de um loiro muito claro e olhos verdes. É bonita, apesar de já não ser muito jovem. É simpática, mas sobretudo, é generosa. Generosa, no trato, na forma como se ofereceu logo para assinar o comprovativo. Generosa, porque me disse em inglês, mesmo com bastantes dificuldades nesta língua, que me ajudaria a praticar o alemão. E cada vez que vou lá, por vezes apenas ver a livraria, outras beber um café. Cumprimenta-me, com um Wie geht's ? (Como está ?). Ajuda-me se pronuncio algo mal e se não entendo, tenta traduzir para inglês, para que eu consiga entender. Foi com ela que aprendi que o bitte, para além de ser, por favor - Einen Kaffee, bitte (um café, por favor) também é usado em alemão, como nós usamos o, de nada, depois de um agradecimento. E recentemente, ao ir à sua loja, disse-me um Olá e um keine Schnee, retribui o Olá, com um Hallo, mas desconhecia o significado de Schnee, e ela a rir diz-me, no snow. Começo a rir também, e repito, keine Schnee, keine Schnee! Não há neve! Não há neve! ...
 Sei que quando lá voltar novamente, espera-me este sorriso franco e genuíno.

Estas são pessoas que não esqueço, que me tocaram de alguma forma, pela sua bondade, pela sua generosidade. Assim como outras, que se cruzaram no meu caminho. São pessoas, que não sendo o meu núcleo, a minha família, ou amigos, tiveram actos que me ficaram no coração, talvez mesmo por isso, por nem sequer me conhecerem. E é como muitos de vocês, que me leem, muitos de vocês e os vossos lugares bonitos estão no meu coração. Pode parecer estranho para muitos, por não conhecer os rostos ou por não conhecer pessoalmente quem está por detrás de um blogue. Mas, sabem quando estão num dia mau e alguém que não conhecem vos faz sorrir, ao vos dar um sorriso ou uma palavra que aqueceu um pouco o vosso dia e o vosso coração ?

É o que acontece aqui. Muitos dos comentários doces que leio, são sorrisos em forma de palavras. São carinho, força, partilha e por vezes até preocupação. Como comentei recentemente com alguém muito especial, o que importa são as pessoas, e são pessoas que estão por detrás de cada blogue que acompanho.

E é assim que as vejo e aos seus lugares bonitos;
A Natália, a mãe e o seu amor pequenino, o seu filho. Que partilha paixões como a escrita e a fotografia, num canto que convida a sonhar. A Mar, que descobri recentemente, tão doce, com um lugar também ele cheio de doçura. Envolvente, cheio de luz. A Daniela, também ela emigrante como eu, e o seu cantinho onde partilha pedaços da sua vida e onde a fotografia também impera. A Ana, com o seu blogue maravilhoso, pelas histórias, pelas imagens. Assim como o canto do José (Mafalda) ou ainda da bonita Mariiana. A Andreia, a primeira menina que comentou o meu blogue, também ela com um cantinho muito bonito, a menina que adora as carrinhas pão de forma e o Alentejo, entre muitas outras paixões. A P', a querida P' (desculpa-me, mas sempre que penso em ti, é ainda com este nome), que adora a Suíça, e cada vez que publico fotos daqui, lembro-me dela e do seu cantinho tão especial. E ainda a Ísis, tão doce e com uma escrita tão bonita que podem acompanhar no seu blogue. Assim também como a Cláudia.

E como muitos outros que visitam este espaço e que têm um lugar no meu coração. Este post é também para vocês. Porque são as pessoas que interessam. E é assim que eu vos vejo. É assim que me tocam. Cada um à sua maneira. Todos, especiais.

'' Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.'' 
Antoine de Saint-Exupéry.

P.S. E este sábado regresso ao lugar que chamo Casa, a Portugal. Será pouco o tempo, mas será aproveitado, em conversas, beijos e abraços. São tantas as saudades da família... Até breve, meus amores.

  Da minha janela, Glarus, Suíça - Autoria da foto - Life, Love and Photograph

1 de janeiro de 2016

E um novo ano começa aqui..


E um novo ano começa. 366 dias iniciam aqui. Que este novo ano nos traga o que mais desejamos. Que mantenha o que nos faz felizes. Que nos faça querer mais. Que nos faça valorizar o que já temos. Que nos traga alegria. Que nos traga sorrisos. Que os abraços que nos confortam sejam constantes. Que a luz esteja sempre em nós, em forma de sol nos nossos corações. Que a alegria exista. Que o amor perdure. E que a vida nos encante, sempre ! Cada dia das nossas vidas. Bem-vindo 2016 ! Sê bom.


Apesar de estar sem computador, está neste momento em reparação. Vou tentar actualizar este meu cantinho, através do PC do meu marido. Mas inevitavelmente estarei mais ausente, não tenho aqui as minhas coisas, as minhas fotos... Mas tentarei vir aqui sempre que me seja possível.


Deixo-vos com este pequeno vídeo, tão bonito!

Um Bom Ano para todos!

*Foto da autoria de Elena Karneeva.

Memórias de um amor..

Saudade..

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