16 de maio de 2016

Aonde pertencemos..

Gosto da cidade. Gosto da agitação, gosto de me perder em ruas e vielas e de me encantar com cada canto... de olhar maravilhada cada fachada antiga, cheia de história, cheia de vida. É isso, a cidade transpira vida. Sou sempre uma turista na cidade. Com a câmara sempre pronta a registar cada momento, com um sorriso no rosto e com uma alegria quase infantil... e saio sempre de lá, de alma cheia. E o que eu gosto de cidades com alma... antigas e históricas, como Lisboa... Adoro as ruas em que o fado soa, fico encantada, de alma leve... e eu, que em miúda, dizia que não gostava de fado... mudamos tanto... e ainda bem... Adoro a movimentação, as ruas e cafés, cheios de gente, o comércio tradicional, as mercearias e cafés centenários, e a calçada tão bonita! Como falar de Lisboa ou de tantas outras cidades portuguesas, sem falar na nossa calçada ? Gosto dos monumentos antigos e estátuas, e também das estátuas vivas, de quem anima as nossas cidades, seja em homens (e mulheres) estátuas, seja com tantos outros talentos e façanhas, que nos fazem olhar, por vezes parar e muitas vezes, ficar a contemplar e a sorrir... uma pessoa e depois outra e mais outra, e quando damos por isso, um mar de gente, se juntou ali, e por momentos, esquecem o mundo, vivem aquele instante. Sim, eu gosto da cidade. Gosto que o meu olhar se perca no rio, no cais das colunas... Gosto da cidade menina. E também eu, sou menina... da cidade.

Cais das colunas (Terreiro do Paço), Lisboa, Abril de 2012

Gosto do mar. Como é possível não gostar ? Aliás, causa-me estranheza, viver agora, num país que não tem mar... logo eu, que gosto tanto de o ter ali, bem por perto, à distância de uma curta viagem... No mar encontro a minha paz... Talvez essa paz, esteja nas águas que brilham sob a luz do sol, talvez esteja nos grãos de areia que agarro num punhado e que escorrem rapidamente das minhas mãos, numa metáfora perfeita, de como o tempo nos foge por entre os dedos... Talvez esteja no som do bater das ondas ou nas gaivotas que tornam o mar, ainda mais encantador. Ou será o cheiro a maresia ? São todos estes pequenos detalhes que o tornam tão grandioso, e se é grandioso, imenso, o oceano... Poucas coisas nesta vida, me sabem tão bem, como um mergulho no mar, aquele instante, aquele momento de embate, em que o nosso corpo bate nas águas e sentimos aquela frescura que nos faz sentir vivos, só nós e o oceano, quase, como se entrássemos noutro mundo... E se sou feliz neste mundo... com sal na pele, com o corpo aquecido pelo sol e com uma leveza que só as coisas muito boas, nos trazem. Mas o oceano, não encanta apenas no Verão. No Inverno deslumbra-me... imponente, é dele próprio, das gaivotas e dos pescadores, dos homens que são do mar. Gosto de os observar, nos seus barcos ou com as suas canas de pesca, ali, só eles, e o oceano... e se são lindas as vilas piscatórias... Sim, sou do mar. O meu olhar perde-se no oceano, e ali, fecho os olhos, e fico quieta, a ouvir, a sentir toda aquela imensidão... e sinto-me pequena, menina... do mar.










Maravilhoso... Cabo da Roca (Colares), Sintra, Agosto de 2015

Gosto do campo. O campo, faz parte de quem eu sou, das minhas raízes, da minha infância, foi no campo que eu cresci... A minha casa era sombreada por um pinheiro e rodeada de muito terreno à volta, e fui tão feliz ali... No baloiço do pinheiro, fechava os olhos, sentia o cheiro a resina e baloiçava, voava por instantes... sentia uma liberdade... inigualável... Tomava banho no tanque de rega com os meus irmãos, apanhávamos fruta e comíamos directamente da árvore... deveria ser lavada, claro, mas para nós, era assim que nos sabia bem, era assim que éramos felizes... numa época em que se fala tanto em biológico, ali era tudo assim, tudo natural. Deitava-me no meio das flores e ali ficava, a sentir os cheiros adocicados, a brincar com joaninhas, a mordiscar azedas (umas pequenas flores amarelinhas), a ouvir os grilos ao final da tarde. Perseguia borboletas e sonhava, sonhava.. de pés bem assentes na terra, e com a mente e o coração, bem lá no alto, nas nuvens... numa antítese da vida, que eu na altura, era muito pequena para compreender. Era no campo, debaixo do pinheiro, que o meu pai nos fazia, um torricado maravilhoso... fatias de pão caseiro, douradas numa fogueira e barradas, ou pinceladas (aqui a memória foge-me e não me consigo recordar com exactidão, como fazia), com azeite e alho... Tão bom! Assim como os seus grelhados, o peixe e as saladas com pimento assado... Um pouco mais acima de onde morava, ficavam os eucaliptos... Ali, naquele terreno, existiam cogumelos, e mais uma vez, eu gostava de me deitar ali, de olhar para cima, para o topo daqueles gigantes, e de olhar a luz do sol, filtrada pelas folhas... Coisas tão simples e tão boas... Quando é que perdemos a capacidade, de nos sentirmos felizes, com as pequenas coisas ?... Fui a menina, que se sentava nos degraus da casa, com um caderninho, e a olhar o Mouchão de Alhandra, o rio ao fundo, escrevia versos... apaixonada. pela natureza... pelo cheiro da terra, quer fosse, depois de uma chuvada, ou no pico do Verão, pelo meu cão que abraçava, por pequenos nadas, que eram tanto... pela vida... Apaixonada, pela vida.

Sim, sou menina, da cidade, do mar, mas sou acima de tudo, do campo. É no campo, que eu volto a ser, a menina, que um dia fui.

Lezíria Ribatejana, Junho de 2013 

* O texto, sobre onde cresci, está totalmente no passado, porque aquele lugar, já não existe mais, não daquela forma... talvez um dia, fale sobre isso. Mas no meu coração e até mesmo no meio dos campos, consigo voltar, em parte, àquele lugar.

E tu, que me lês ;)  A que lugar pertences ?

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*Autoria das fotos - Life, Love and Photograph

42 comentários:

  1. Sou da cidade, mas adoro o campo. Ás vezes sonho em largar tudo e viver lá, outras vezes penso que seria impossível. Adoro a cidade como adoro o campo.

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    1. Pois, eu percebo-te bem ;)São três mundos maravilhosos. No meu caso, uma casinha no campo e perto da praia ao mesmo tempo, faria-me muito feliz :)

      Bem-vinda ao meu cantinho ;)

      Um beijinho ❤

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  2. Gosto da cidade...mas também adoro ir ao campo...

    Isabel Sá
    http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

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  3. Eu sou suspeita, gosto mesmo do campo, com umas escapadinhas à cidade! Fotografias espetaculares!!!

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    1. Pois, eu também sou suspeita ;) O ideal para mim, seria uma casinha no campo, perto do mar (podia ser na Arrábida, que adoro) e com umas escapadinhas também à cidade. :)

      Obrigada, Márcia ;)

      Um beijinho ❤

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  4. Adorei o texto, também adoro cidade é um ambiente completamente diferente mas confesso que o campo da me mais paz de espírito :)
    Adorei também as fotografias :)
    with love, KATE ❤

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    1. São dois mundos, muito diferentes, mas qualquer um deles, tem o seu encanto... e ainda o mar ;) Obrigada Catarina, fico contente por teres gostado.

      Beijinhos ❤

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  5. Uma verdadeira poesia este texto. E que tão bem me soube ler. Gosto da forma como escreves. Vim visitar-te com a ideia de retribuir a visita que me fizeste e decidi ficar. Adoro as fotografias que tiras e adoro os sentimentos e desabafos que partilhas connosco. Também eu sou daquelas que põe a mochila às costas e me perco nas ruelas das grandes cidades, neste caso onde vivo. Saudades do Cabo da Roca que tanto me faz lembrar a minha doce mamã :) (era muitas vezes tratada por Roka). Obrigada pela publicação ;) Um beijinho

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    1. Ohh.. muito obrigada, Anna. Fico muito contente por teres gostado. São relatos e memórias minhas que vou partilhando por aqui. Por vezes, de pessoas, por vezes de lugares... e estes para mim, são muito especiais. Fico muito feliz, pelo texto e a imagem te fazerem lembrar a tua doce mãe. Roka parece-me muito bem :)

      De nada. Bem-vinda ao meu cantinho Anna ;)

      Um beijinho para ti ❤

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  6. Também pertenço à cidade, ao mar e ao campo. As tuas fotografias estão lindas. E eu leio-te de Lisboa e do Ribatejo. Se calhar de bem perto... :)

    nem mais nem menos | Facebook | Instagram

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    1. Eu também pertenço aos três lugares, mas as minhas raízes estão no campo. Muito obrigada Cat, fico muito contente por teres gostado. Que giro ;) :)

      Um beijinho e Bem-vinda ao meu cantinho ❤

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    2. Ohhh obrigada, querida ;)

      Um beijinho

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  7. Nasci para os lados de Lisboa, ou seja cidade, mudei-me para o Norte, mais considerado campo, e amo o mar.

    Acho que escreves tão bem, a sério!

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    1. Que giro, nasces na cidade, vais para o campo, mas o que amas, é mesmo o mar ;) talvez um dia venhas a morar perto dele.

      Ohhh muito obrigada, querida Pepper :)

      Um beijinho grande ❤

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  8. Que fotos tão bonitas!!!

    Eu sou da cidade e da praia... gosto do campo, mas não conseguir lá viver. Para mim, o local perfeito seria uma cidade pequena, daquelas em que praticamente não precisas do carro para nada, e à beira-mar (=

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    1. Muito obrigada Sofia, fico muito contente por teres gostado :)

      Também não me parece mal, só acrescentava uma área de campo em volta da casa ehehehe ;)

      Um beijinho ❤

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  9. Fotos lindas! Sou do Ribatejo e gostei muito de ver a Lezíria através dos teus olhos ;)

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    1. Muito obrigada Joana, fico muito contente por teres gostado ;) Mais uma ribatejana, que giro :) O nosso Ribatejo tem paisagens lindas.

      Um beijinho, uma boa viagem, cheia de momentos doces e inesquecíveis, e bem-vinda ao meu cantinho. ❤

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  10. Ola Linda:)
    Tudo Bem?
    Fotos Saos Lindas:)
    Adorei o post:)
    Muito Obrigada
    Bjs Open Kloset
    Tenho Novo Post sobre Sushi Design:)
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  11. Impossível não nos rendermos *.*

    r: Sem dúvida!

    Que bom que é ler isso

    Muito obrigada :)

    Fico contente por teres gostado

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  12. Adorei o texto, mesmo! E as fotografias, ainda mais :)
    Eu sou da cidade, cresci no campo e queria viver nas montanhas ou numa floresta. Rodeada de cães. Muitos cães. :)
    um grande beijinho!

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    1. Que bom, querida Mariiana :) Fico mesmo feliz por teres gostado.

      Também me parece uma excelente ideia. Os Alpes Suíços são óptimos para isso ;)

      Outro grande para ti ❤

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  13. Belíssimas fotos (não esperava outra coisa)! ;)

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  14. Boa tarde, nasci e sempre vivi junto ao mar, da minha janela vejo o mar e o seu movimento, pela noite oiço as suas maravilhosas melodias, saio de casa e estou a 3 minuto doa mar, como posso eu viver afastado do mar que amo? nunca na vida, aceitaria viver longe do mar, ele e a sua gente que vive do mar faz parte da minha vida.
    Boa semana,
    AG

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    1. Olá AG,

      Compreendo bem, aliás, eu adorava viver perto do mar, mas tenho realmente uma forte ligação ao campo, devido à minha infância. para mim, o meu ideal seria, uma casa à beira mar, mas também com campo em volta da casa, a costa Vicentina seria óptima para isso :)

      Uma boa semana também para si.

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  15. Também adoro Lisboa, o mar e o campo... não sei se sei de onde sou mas o coração diz-me que pertenço ao Alentejo com o mar à mão... sem o mar à mão nenhum lugar me faz grande sentido, nenhum lugar me pertence, ou eu a ele.
    Beijinhos :)

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    1. Eu percebo-te bem, foi como referi acima, apesar de ter uma forte ligação com o campo, viver perto do mar, é um previlégio e para mim, seria quase um sonho. Ah o Alentejo, a costa vicentina, espectacular! Seria o ideal, não era Cris ? ;) (Junta o melhor dos dois mundos).

      Um beijinho para ti também :)

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  16. Identifiquei-me muito com isto! Eu sempre disse que Lisboa não era para mim, talvez por ser a cidade grande ahaha mas hoje em dia ADORO!
    Eu adoro o mar! Oh meu Deus, adoro mesmo! O lugar a que pertenco é à Ilha da Madeira (mas vivo em Mafra), talvez seja por isso que eu adoro o mar. Eu tanto gosto de cidade como o campo! Uma das vantagens de viver por Mafra, é ter o mar mais pertinho de mim :) beijoca *

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    1. Pois é, são três mundos maravilhosos :) Gosto muito de Mafra, com a Ericeira ali pertinho, e é tão linda, a Eiceira ;) Percebo-te bem, é tão bom ter o mar pertinho de nós. Adorava conhecer a ilha da Madeira, e os Açores também, um dia... ;)

      Outra beijoca para ti, querida Kathe ❤

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  17. Bem, eu não sei o que é ser de um sítio. Os meus pais andavam de um lado para o outro, quando era pequena. Não sabia dizer onde era a minha casa, se me perguntavam. A casa nunca era a mesma. O lugar nunca era o mesmo. As pessoas nunca eram as mesmas. Isso acaba por nos definir, por determinar muito a maneira como sentimos os sítios. E então, sou do sítio onde estiver. Sempre do sítio onde estiver. Por mais transitório que seja. Mas é assim que sinto e não consigo que seja de outra maneira.
    Adorei as tuas fotografias. E as coisas que sentes em relação aos (teus) sítios. E de ti. Gosto muito da pessoa que és, querida Cláudia.

    Um beijo. Bom fim-de-semana.

    Mar

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    1. Espero que apesar de tudo, de tantas mudanças, tenhas conseguido ter boas recordações da tua infância. Digo isto, porque sei o quanto pode ser difícil e criar instabilidade, se não existir um apoio familiar forte... eu após esta fase mais feliz, em que era mais pequena, muitas mudanças se sucederam, na minha vida, nas nossas vidas, de casa(s), e no meu caso não foi nada fácil e criou-me uma sensação de insegurança e de muita instabilidade. Espero sinceramente, que tenhas conseguido apesar de tudo, ter boas recordações.

      Eu também sou de vários sítios, mas em casa, em Portugal. Ainda não me sinto deste sítio. Mas pergunto-te assim ;) Qual é o lugar, que mais gostas de ir e onde te sentes mais em paz ? Em todos eles, ou na cidade, no campo ou no mar ? ;)

      Muito obrigada, fico tão feliz por teres gostado :) Ohhhh és um doce, Mar. E eu de ti, também gosto muito da pessoa bonita que és ❤

      Outro beijinho para ti e que tenhas também um excelente fim de semana :)

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  18. A cidade, o mar e o campo...cada um com as suas maravilhas. E que lindas imagens querida Cláudia :)
    Um beijinho*

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    1. É mesmo, cada um com as suas maravilhas e com a sua beleza. Ohhh muito obrigada Ana, fico muito feliz por teres gostado :)

      Outro grande para ti ❤

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Obrigada pelo teu comentário ❤ Responderei aqui.

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