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Foto de Elena Shumilova |
Sempre gostei de voltar aonde fui feliz ... fisicamente, voltando a determinado lugar ou abrindo as gavetas da memória e viajando para esse espaço no tempo que me marcou pelos bons momentos vividos ou por algo que quero que permaneça em mim, que o tempo não apague.
Não falo de momentos menos bons, esses também fazem parte da vida e aprendemos com eles. Afinal é o que vivemos de bom e de menos bom, que nos torna e nos molda, ao que somos hoje.
Falo sim, de quando num dia mau, te recordas e te refugias, no ultimo abraço que deste ao amor da tua vida, ou quando não consegues adormecer e revês mentalmente os traços do seu rosto, aquele dia em que passeaste com ele, os beijos e o seu cheiro, sim, o cheiro retido na memória e que não esqueces..
Falo de quando vês uma criança na rua que te sorri e dás por ti instantaneamente a devolver o gesto e és levada para esse tempo já longe, onde corrias sem parar, onde para ti o mundo era um local a descobrir, cheio de coisas bonitas.. recordas-te do sol na face, de passar tardes a apanhar flores, dos cheiros do campo e sentes a mesma magia de outrora, a magia do mundo visto pelos olhos de uma criança, um mundo cheio de brincadeira, cheio de sonhos.
Falo de instantes, a vida é feita de instantes, de momentos, o que vivemos hoje será a memória do amanhã. Sei perfeitamente, como se algo me despertasse a alma, quando vivo algo de muito precioso, esse instante perfeito e tantas vezes tão fugaz. E quando acontece só o quero guardar em mim, na memória para nunca mais o perder e poder voltar a ele sempre que as forças me faltem. Para não o perder se tal fosse possível selava-o, lacrava-o, fechava esse instante perfeito a sete chaves. Mas não é possível e assim ao longo da vida, vamos guardando em nós memórias, pessoas, lugares onde fomos, onde somos felizes.
Nós somos a soma imperfeita, nunca seremos perfeitos, do que vivemos, da criança que fomos, do carinho que nos dão, da educação, das brincadeiras, dos sorrisos, da alegria, da tristeza, do amor. Tudo isto leva-nos ao que somos hoje e continuamos a somar, experiências, recordações, é a vida que corre e que nos leva ao que seremos amanhã.
E se tudo isto se apagasse ?
Se tudo o que vivemos, quem conhecemos, quem somos fosse sendo apagado ?
É arrepiante saber que pode acontecer, que existem doenças progressivas e degenerativas que mesmo deixando-nos vivos, podem levar toda a vida que há em nós, o que somos e o que vivemos irreversivelmente..
Tenho medo, não vou dizer que não.. Não sei o que o futuro nos reserva, ninguém sabe..
Mas sei o que não quero esquecer nunca e que tento guardar para sempre em mim ;
A menina que fui, a jovem que se apaixonou por ti amor, até hoje.. Não me quero esquecer dos teus beijos, nem do teu toque em mim, nem dos teus abraços fortes que me abrigam.. Não quero esquecer que num Agosto, que quis ser ameno, me casei contigo, que estavas nervoso e eu trémula mas os dois felizes... Não quero esquecer o teu sorriso, nem o teu rosto.. Não quero esquecer quem sou e nem de quem tu és.
A vida é feita de instantes e das suas memórias, vamos vivendo e recordando e espero que sempre assim o seja ⦁
" O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis ". - Fernando Pessoa