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Foto de parkeryoung.net |
'' Na vida, vamos aprendendo a ter prazer por camadas. como se fosse uma pirâmide que se sobe, degrau a degrau, cada vez com sabores novos. prazer no que fazemos, no que gostamos, do que vivemos. de quem vivemos. e da forma que vivemos esses que nos rodeiam. primeiro, na base da pirâmide os básicos - o que nos conforta as necessidades primárias: o que nos aquece no frio, como uma manta, ou o colo de uma mãe. o que nos refresca no calor, como uma banho de mar, ou uma corrente de ar na janela aberta. depois o que comemos, o doce, o salgado, o gelado, o picante. e ao longo da infância vamos aprendendo mais um rol de prazeres simples, que nos entram nos dias.
quando começamos a ganhar alguma maturidade passamos a outro nível da pirâmide. os prazeres que passam do físico para a capacidade de apreciar: uma música, uma pintura, um texto. um corpo. aprendemos a gostar de ouvir, de ler, de ver. aquele gosto na descoberta sempre de algo novo. viajamos, pesquisamos, encontramos: lugares, imagens, pessoas. e neste ritmo de layers que se somam vamo-nos realizando, crescendo, desenvolvendo a capacidade de apreciar. já adultos descobrimos o prazer de fazer. de ver acontecer coisas que saíram das nossas mãos, das nossas ideias. no trabalho, na profissão, em casa - as festas com os amigos, os jantares demorados, os presentes simples, mas cheios de significado. descobrimos o prazer de criar, mais que coisas, momentos que se partilham com quem se gosta.
mais reservado, é único o prazer de ter pessoas felizes em nós. primeiro o prazer do namoro, do flirt que fica sério. do sorriso que fica emoção. depois os mil prazeres do corpo. dos corpos que se tocam, que se devoram noites dentro, cada vez mais íntimos. mas prazer a sério, é aquele que passa pela inteligência, pela descoberta de alguém tão igual na forma de viver, não nos dias, não no corpo, mas na alma. prazer a sério é ter quem diz as mesmas coisas, no mesmo momento. que percebe aquela música, mesmo sem a ouvir. prazer a sério é passar horas a falar do nada, e ser feliz só por isso. é passar horas apenas a estar, a respirar o outro, e sentir que esse é o ponto mais alto da pirâmide. ou não. porque pode (deve) haver sempre algum prazer maior a descobrir. ou mesmo a criar. e esses passam sempre pela forma como conseguimos ligar-nos a alguém. e como, duas pessoas, juntas, conseguem (devem) subir sempre mais um degrau. na forma como vivem os dias entre sorriso tontos, mesmo os mais difíceis. na forma como se deliciam - languidamente - na inteligência do outro, mesmo em silêncio. na forma como se emocionam no prazer do corpo, mesmo sem se tocarem sequer. degrau maior, é descobrir na pele que 'amo't', às vezes, é uma palavra já tão curta para tanto do prazer que se vive. junto. ''