Gosto da cidade. Gosto da agitação, gosto de me perder em ruas e vielas e de me encantar com cada canto... de olhar maravilhada cada fachada antiga, cheia de história, cheia de vida. É isso, a cidade transpira vida. Sou sempre uma turista na cidade. Com a câmara sempre pronta a registar cada momento, com um sorriso no rosto e com uma alegria quase infantil... e saio sempre de lá, de alma cheia. E o que eu gosto de cidades com alma... antigas e históricas, como Lisboa... Adoro as ruas em que o fado soa, fico encantada, de alma leve... e eu, que em miúda, dizia que não gostava de fado... mudamos tanto... e ainda bem... Adoro a movimentação, as ruas e cafés, cheios de gente, o comércio tradicional, as mercearias e cafés centenários, e a calçada tão bonita! Como falar de Lisboa ou de tantas outras cidades portuguesas, sem falar na nossa calçada ? Gosto dos monumentos antigos e estátuas, e também das estátuas vivas, de quem anima as nossas cidades, seja em homens (e mulheres) estátuas, seja com tantos outros talentos e façanhas, que nos fazem olhar, por vezes parar e muitas vezes, ficar a contemplar e a sorrir... uma pessoa e depois outra e mais outra, e quando damos por isso, um mar de gente, se juntou ali, e por momentos, esquecem o mundo, vivem aquele instante. Sim, eu gosto da cidade. Gosto que o meu olhar se perca no rio, no cais das colunas... Gosto da cidade menina. E também eu, sou menina... da cidade.

Cais das colunas (Terreiro do Paço), Lisboa, Abril de 2012
Gosto do mar. Como é possível não gostar ? Aliás, causa-me estranheza, viver agora, num país que não tem mar... logo eu, que gosto tanto de o ter ali, bem por perto, à distância de uma curta viagem... No mar encontro a minha paz... Talvez essa paz, esteja nas águas que brilham sob a luz do sol, talvez esteja nos grãos de areia que agarro num punhado e que escorrem rapidamente das minhas mãos, numa metáfora perfeita, de como o tempo nos foge por entre os dedos... Talvez esteja no som do bater das ondas ou nas gaivotas que tornam o mar, ainda mais encantador. Ou será o cheiro a maresia ? São todos estes pequenos detalhes que o tornam tão grandioso, e se é grandioso, imenso, o oceano... Poucas coisas nesta vida, me sabem tão bem, como um mergulho no mar, aquele instante, aquele momento de embate, em que o nosso corpo bate nas águas e sentimos aquela frescura que nos faz sentir vivos, só nós e o oceano, quase, como se entrássemos noutro mundo... E se sou feliz neste mundo... com sal na pele, com o corpo aquecido pelo sol e com uma leveza que só as coisas muito boas, nos trazem. Mas o oceano, não encanta apenas no Verão. No Inverno deslumbra-me... imponente, é dele próprio, das gaivotas e dos pescadores, dos homens que são do mar. Gosto de os observar, nos seus barcos ou com as suas canas de pesca, ali, só eles, e o oceano... e se são lindas as vilas piscatórias... Sim, sou do mar. O meu olhar perde-se no oceano, e ali, fecho os olhos, e fico quieta, a ouvir, a sentir toda aquela imensidão... e sinto-me pequena, menina... do mar.

Maravilhoso... Cabo da Roca (Colares), Sintra, Agosto de 2015
Gosto do campo. O campo, faz parte de quem eu sou, das minhas raízes, da minha infância, foi no campo que eu cresci... A minha casa era sombreada por um pinheiro e rodeada de muito terreno à volta, e fui tão feliz ali... No baloiço do pinheiro, fechava os olhos, sentia o cheiro a resina e baloiçava, voava por instantes... sentia uma liberdade... inigualável... Tomava banho no tanque de rega com os meus irmãos, apanhávamos fruta e comíamos directamente da árvore... deveria ser lavada, claro, mas para nós, era assim que nos sabia bem, era assim que éramos felizes... numa época em que se fala tanto em biológico, ali era tudo assim, tudo natural. Deitava-me no meio das flores e ali ficava, a sentir os cheiros adocicados, a brincar com joaninhas, a mordiscar azedas (umas pequenas flores amarelinhas), a ouvir os grilos ao final da tarde. Perseguia borboletas e sonhava, sonhava.. de pés bem assentes na terra, e com a mente e o coração, bem lá no alto, nas nuvens... numa antítese da vida, que eu na altura, era muito pequena para compreender. Era no campo, debaixo do pinheiro, que o meu pai nos fazia, um torricado maravilhoso... fatias de pão caseiro, douradas numa fogueira e barradas, ou pinceladas (aqui a memória foge-me e não me consigo recordar com exactidão, como fazia), com azeite e alho... Tão bom! Assim como os seus grelhados, o peixe e as saladas com pimento assado... Um pouco mais acima de onde morava, ficavam os eucaliptos... Ali, naquele terreno, existiam cogumelos, e mais uma vez, eu gostava de me deitar ali, de olhar para cima, para o topo daqueles gigantes, e de olhar a luz do sol, filtrada pelas folhas... Coisas tão simples e tão boas... Quando é que perdemos a capacidade, de nos sentirmos felizes, com as pequenas coisas ?... Fui a menina, que se sentava nos degraus da casa, com um caderninho, e a olhar o
Mouchão de Alhandra, o rio ao fundo, escrevia versos... apaixonada. pela natureza... pelo cheiro da terra, quer fosse, depois de uma chuvada, ou no pico do Verão, pelo meu cão que abraçava, por pequenos nadas, que eram tanto... pela vida... Apaixonada, pela vida.
Sim, sou menina, da cidade, do mar, mas sou acima de tudo, do campo. É no campo, que eu volto a ser, a menina, que um dia fui.